Comportamentos indesejáveis e trabalho de “partes”
Pode dizer-se que toda a PNL tem como fim a aprendizagem sobre o funcionamento da mente para, com esse conhecimento, podermos criar novos comportamentos ou transformar comportamentos não funcionais. A esse processo de descoberta chamamos “tornar conscientes os processos inconscientes que se operam na mente”. São estes processos que são os responsáveis pela nossa maneira de sentir e reagir. O conhecimento desses processos que habitualmente têm lugar de forma inconsciente, estão na base das intervenções em coach e terapia.
Assim, partimos do princípio que o comportamento é determinado diretamente por uma representação mental que interage com uma sensação. Partimos do princípio que essa representação mental e essa sensação são o produto duma história pessoal (acontecimentos e respetiva interpretação pessoal, valores, convicções, uso da linguagem, decisões, etc.). Partimos também do princípio que qualquer comportamento quer realizar uma intenção e que essa intenção é sempre positiva, pelo menos para a pessoa que age dessa forma.
Assim, há em PNL diversas formas que ajudam a transformação de comportamentos. Podemos transformar diretamente as representações mentais referentes ao comportamento e substitui-las por outras representações sensoriais (outras imagens, sons, sensações, palavras) que sejam mais funcionais. Podemos indiretamente transformar as representações mentais e sensações que estão na origem do comportamento utilizando técnicas que vão atuar na nossa história pessoal, as chamadas terapias da linha do tempo. E há outra técnica, de que vou falar aqui e que não tem necessidade de recorrer à terapia da linha do tempo. Para resolver um problema, não é necessário conhecer o eventual caso que possa estar na origem do comportamento. A este processo chamamos o “trabalho de partes”.
Quando uma pessoa insiste num comportamento que não quer ter, então torna-se altamente produtivo olhar para esse comportamento como sendo um comportamento de uma “parte” dentro de nós, uma parte que não está sob o nosso controlo. Se pudéssemos controlar essa parte, certamente que transformaríamos o comportamento com facilidade.
Ora torna-se mais produtivo se olharmos para a parte com bons olhos – é que na prática comprova-se a todo o momento que o comportamento, por mais destrutivo que seja, tem por detrás determinada intenção positiva. Por detrás da ação de fumar, pode estar um desejo de calma, reflexão, companhia. Agressividade linguística pode corresponder à necessidade de impor fronteiras. Desconcentração pode significar que uma pessoa quer estar alerta para outras coisas mais interessantes. Extrema introversão pode significar proteção. Perfeccionismo, necessidade de controlo e segurança. E por aí fora.
A razão pela qual não conseguimos transformar o comportamento reside, segundo a PNL, no facto de que a intenção positiva terá sempre que ser realizada. Há na verdade uma incongruência entre a forma de comportamento e a intenção; quer dizer, com a forma de comportamento que a pessoa está tendo, acaba-se é muitas vezes por não se realizar a intenção positiva inconsciente. A solução está em conseguir encontrar formas alternativas de comportamento mais funcional que realizem com indiscutível sucesso a intenção positiva do comportamento antigo. Então, e só então, pode haver transformação.
Há que identificar em primeiro lugar o comportamento indesejável e especificá-lo e para isso são empregues as perguntas do que é conhecido como o “modelo meta” da linguagem, o primeiro modelo desenvolvido em PNL.
Posto isso, há que identificar, a parte responsável pelo comportamento. Quando se fala em “parte” referimo-nos a algo como “um aspeto inconsciente de mim”, “algo no meu inconsciente”, “um canto de mim”. Talvez, empregando uma formulação um pouco forte, podemos falar de “uma sub-personalidade de mim”.
Depois há que investigar de forma introspetiva a intenção positiva da “parte”. Se não encontrarmos imediatamente a intenção positiva, há que continuar a investigação até encontrar a intenção por detrás da intenção que inevitavelmente levará a um objetivo positivo qualquer. Ora este processo não é fácil feito individualmente pois a maioria das pessoas não está habituada a olhar para si com estes olhos, a escutarem-se desta maneira, nem a sentirem-se com maior compreensão e doçura. As pessoas castigam-se, criticam-se, desrespeitam-se e tudo por desconhecimento do processo inconsciente que leva ao comportamento.
O próximo passo é encontrar outro comportamento que satisfaça a intenção positiva. Ora parece-me óbvio, que só um bom profissional pode aumentar as possibilidades de sucesso na transformação. Há que não só encontrar novas alternativas, e que só podem ser encontradas pela pessoa em questão (e não por outros, nem que sejam os nossos melhores amigos, esses em geral sabem sempre melhor do que nós o que devemos fazer), o que significa levar a pessoa a um estado de transe criativo para encontrar soluções inovadoras. Mas há também que estabelecer um diálogo interno muito subtil ao nível do inconsciente para levar a parte a, ela mesma, descobrir as vantagens da adoção de novas formas de comportamento. Ora isto exige que a mente consciente não se intrometa, pois é o que tem andado sempre a fazer e sem resultados. Este processo chama-se o “Reenquadramento em 6 passos”, uma das técnicas, no meu entender, das mais elegantes em PNL.
Mas mesmo sem a ajuda dum profissional, já poderá chegar mais longe se se habituar a analisar-se com mais carinho, escutar a intenção positiva daquilo que até agora denominava até como a sua pior característica, olhar para si e para um comportamento indesejável com maior compreensão juntando ao diálogo interno uma maior dose de amor, aquele amor que às vezes damos aos outros ou queremos que os outros nos deem e que tão poucas vezes damos a nós mesmos. Só fazemos as coisas duma determinada maneira, enquanto não sabemos a forma das fazermos melhor. E dentro de nós, se aprendermos melhor a escutar e a confiar no nosso inconsciente, revelar-se-á um número incalculável de respostas que só não ouvimos porque estamos demasiado ocupados a construir ruído, habituamo-nos a ele e acabámos por acreditar que o ruído é a vida, enquanto muitas das coisas mais belas da vida muito possivelmente só se revelam no silêncio.