
Em “Conversations – Freedom is everything & love is all the rest”, de Owen Fitzpatrick e do Dr. Richard Bandler (cofundador da PNL), lê‑se o seguinte, traduzido aqui livremente:
“Os terríveis monstros que existem neste mundo têm a forma de tristeza, ansiedade, raiva, ódio e desespero. Quando os podemos ver nos olhos e sabemos que seremos bem-sucedidos, então somos livres”.
A quantidade enorme de livros de autoajuda, os cursos crescentes de desenvolvimento pessoal, a variedade e crescimento na oferta de coaching mostram‑nos as necessidades das pessoas e, ao mesmo tempo, que “ser livre” não é tarefa fácil.
Porquê?
Porque construir uma ponte, uma linha de caminho-de‑ferro ou até mesmo para fazer uma viagem à lua, se tudo isso se pode fazer de forma consciente e controlada utilizando meios lógicos e racionais, a transformação individual é de uma outra total natureza. Primeiro, não temos consciência do que se passa em nós e, mesmo que tenhamos um vislumbre, não sabemos como lidar com isso.
Vivemos muito na ilusão de que nos podemos controlar ou, pelo menos, de lidar connosco de forma racional.
A questão é que quem manda em nós não é a nossa mente racional.
No fundo, o inconsciente, com a sua própria lógica, é rei.
Metáfora: Um psicólogo tinha um paciente com extremos problemas de memória. Em todas as consultas, tinha lugar a mesma cerimónia de apresentação pessoal. Este psicólogo fez uma experiência que ficou célebre. Uma vez, despediu‑se do paciente escondendo na mão um pionés. No encontro seguinte, sem ter a mínima consciência pela qual o fez, o paciente recusou‑se a cumprimentar o psicólogo.
A mão do psicólogo tornou‑se um estímulo a evitar, passando a ser uma projeção imaginária do paciente, uma “âncora” como se diz em Programação NeuroLinguística. E o que tem esta história a ver com Liberdade?
MODELOS SOBRE O FUNCIONAMENTO DA MENTE
Há diversos modelos sobre o funcionamento da mente. O célebre modelo metafórico do icebergue de Mc Clelland mostra-nos os comportamentos como a parte visível de um icebergue. As determinantes do nosso comportamento (autoimagem, normas e valores, características psicológicas e motivos) são representadas como fazendo parte da grande massa por baixo da linha das águas.
Um dos modelos mais correntes em PNL e que exprime o seu mais fundamental axioma (“o mapa não é o território”), o vulgarmente chamado “modelo de comunicação”, mostra‑nos o comportamento como resultado de processos inconscientes. Reagimos não ao mundo, mas à nossa representação inconsciente do mundo exterior, com base num processo de distorção, omissão e generalização da informação. Este processo é determinado, de forma inconsciente, por fatores como a genética, valores e convicções, emoções ligadas às memórias, traços psicológicos e significados linguísticos.
Um outro modelo, aparentando certas semelhanças com o modelo do icebergue, também amplamente usado no mundo da PNL, é geralmente apresentado na forma de uma pirâmide e é conhecido como os “níveis neurológicos de comunicação” da autoria de Robert Dilts no seguimento dos trabalhos de Gregory Bateson e Bertrand Russel.
Divide a temática da comunicação, aprendizagem, transformação e intervenção numa parte visível (mundo exterior e comportamento) e numa parte invisível determinante competências, valores e convicções, identidade e espiritualidade).
A PNL atual, por vezes chamada de 3.ª geração, trabalha em transformações de forma generativa (mudanças mais globais que vão além da aquisição e transformação de comportamentos). No seguimento da atenção dada ao papel dos valores e das convicções nos anos 90, a PNL centra‑se agora na identidade e na espiritualidade, na realização da nossa missão pessoal em conexão com o sistema maior em que estamos integrados. Esta distinção entre consciente e inconsciente é fundamental para a compreensão do tema “Liberdade” como é tratado aqui.
O QUE PODE A MENTE CONSCIENTE?
Já certamente ouvimos falar de sonâmbulos. Como é possível que um sonâmbulo conduza um carro? E precisamos falar de sonâmbulos? Qual a percentagem de tempo em que conduzimos de casa para o trabalho e vice-versa, de forma consciente? Já imaginou com seria pilotar um avião a jato, defender uma grande penalidade no campo de futebol, desviar-se de um carro a alta velocidade vindo na sua direção, apanhar um copo que tomba, fazer tudo isso de forma consciente? Seria possível? Experimente falar com alguém ao mesmo tempo que esfrega os seus dedos numa lixa de papel. Experimente agora o diálogo mas com uma chávena quente na mão. E sentado num sofá confortável num ambiente agradável e num banco num ambiente frio? Dê atenção às sensações e à qualidade do diálogo nas diferentes situações e responda:
– até que ponto as suas sensações e o diálogo são determinados pela sua mente consciente?
Ainda mais simples: executa tudo o que conscientemente determinou fazer? É dono dos seus pensamentos? Dos seus estados emocionais? Casou ou teve filhos ou escolheu um trabalho, ou vive numa determinada rua, ou votou naquela pessoa e naquele partido, unicamente como resultado de uma decisão sua, fria e bem pensada? Decidiu conscientemente ou racionalizou, quer dizer, encontrou razões depois da decisão tomada? E se analisou utilizando passos lógicos, quando tomou a decisão, ela foi fruto da análise ou de uma sensação subtil vinda, digamos, do seu “estômago”?
UMA DEFINIÇÃO DE LIBERDADE
A “Liberdade” é uma nominalização. Em PNL, falamos de um processo linguístico que transforma um verbo num substantivo de ordem abstrata. O que quer dizer que cada um lhe dá a sua própria interpretação.
Na Wikipédia, podemos ler que “Liberdade”, em filosofia, pode ser compreendida tanto negativa quanto positivamente. De forma negativa, referimo‑nos a ausência de submissão e ausência de servidão, aludindo, assim, à independência do ser humano. Compreendida de forma positiva, a Liberdade é a autonomia e a espontaneidade de um sujeito racional; elemento qualificador e constituidor da condição dos comportamentos humanos voluntários.
Este último aspeto do conceito de Liberdade como atividade autónoma do sujeito racional, ligada à questão do livre‑arbítrio, tem sido posto em dúvida por diversas investigações no mundo da neuropsicologia e da neurociência.
PNL E A QUESTÃO DO LIVRE ARBÍTRIO
O tema do “livre‑arbítrio” (poder fazer conscientemente escolhas) é uma questão que tem ocupado pensadores e cientistas através dos tempos. O “livre‑arbítrio” é considerado cada vez mais, atendendo ao conhecimento atual do funcionamento do cérebro, uma grande ilusão. Todos nós tomamos decisões, é certo. Mas fazemo-lo sempre dentro de quadros determinados hereditariamente, formação no útero, ditames da nossa história pessoal e influenciados pelo meio exterior.
Segundo alguns investigadores no campo da neuropsicologia e da neurociência, parece que de livre‑arbítrio não deve restar grande coisa, e certamente se estivermos a falar de livre‑arbítrio no significado de decisões racionais conscientes.
A grande maioria das pessoas no mundo não tem mesmo, possivelmente, qualquer sombra de livre arbítrio. O piloto automático fruto dos ditames da sua história pessoal e o mundo exterior determinam as suas vidas e não têm a mínima consciência do que as move.
Em PNL, estuda‑se precisamente a nossa subjetividade e as suas possíveis leis, o que nos pode ajudar a viver de forma mais harmoniosa com aquilo que somos. Evito o uso de americanismos exagerados em que são vendidas receitas que nos prometem ser capazes de conquistar tudo o que queremos como fruto das nossas decisões.
Em PNL trabalhamos na verdade a relação entre “pensamento”, “ação” e “resultados”, mas partir incondicionalmente de regras de causalidade não me parece assegurar sucesso. A terminologia do “sucesso”, “poder”, “controlo”, “atingir o que se quer” é, talvez, mais uma questão de publicidade comercial do que algo fundamentado nos conhecimentos da psicologia e da neurociência.
A “ciência e arte” da PNL oferece‑nos sim uma ferramenta formidável para o autoconhecimento e ajustamento do comportamento às nossas próprias leis naturais e atividade da mente. Em PNL estuda-se como o inconsciente determina as nossas vidas.
Caracterizamos os nossos cursos pela metáfora: “a caminho do cerne, a partir do cerne”: conhecermo-nos cada vez mais e agirmos de forma ecológica, em harmonia com esse conhecimento e ao encontro de um maior balanço interno e na relação com o mundo.
SOBRE DECISÕES
Até que ponto temos então consciência dos fundamentos das nossas decisões? Quem é, afinal, o dono das nossas decisões? E o que é uma decisão acertada? Diz‑se que a vida é feita de escolhas. Mas quem faz as escolhas? Certamente que somos nós. O que a maioria das pessoas talvez não perceba e que a neurociência tem estado a provar é que só nos apercebemos conscientemente de grande parte das nossas decisões depois de o inconsciente já as ter tomado. Isto é algo difícil de aceitar para um grande número de pessoas. Damos na nossa civilização ocidental demasiada importância ao papel da mente consciente nas nossas vidas.
A mente consciente lida com um número muito pequeno de variáveis, enquanto o inconsciente tem, possivelmente, capacidades ilimitadas. Alguns cientistas estudiosos do cérebro admitem que enquanto o consciente assimila 2.000 bits de informação por segundo, o inconsciente trabalha com 400 biliões de bits por segundo. A mente consciente é pela sua própria natureza incapaz de tomar decisões em que há muitas variáveis em jogo. Imagine o trabalho de computador necessário para calcular com precisão o movimento do braço para impedir a queda de um copo.
Já Freud dizia que utilizava a mente consciente para as decisões banais e deixava as grandes decisões da vida para uma parte mais profunda que existe em nós.
O CONSCIENTE E O INCONSCIENTE
O trabalhador incansável Salieri despendia todo o seu esforço na composição de uma medíocre melodia que Mozart ridicularizava. Mozart compunha, sem esforço, obras geniais que o ciumento Salieri considerava reveladas por Deus. No quadro deste artigo, qual é a grande diferença entre Salieri e Mozart?
E como nos sentimos na vida: – Somos mais Salieri ou somos mais Mozart?
Em PNL, estudamos e damos uma importância enorme aos processos da mente inconsciente. O inconsciente é um repositório imenso de informação. Reagimos constantemente de forma automática a estímulos baseados em informação de que não temos a mínima consciência, tal como o paciente reagiu de forma automática à mão do psicólogo mesmo que este não tivesse nenhum pionés na mão.
Em PNL utilizamos estes processos nas técnicas de “ancoragem”.
Julgamos que, conscientemente, temos valores pelos quais lutamos e que dão significado às nossas vidas. A “Liberdade” de que falamos aqui é um bom exemplo:
não temos a mínima consciência de que, na maioria das vezes, o que nos move não é propriamente a construção intelectual do conceito “Liberdade”, mas sim uma emoção escondida e geralmente recalcada, por exemplo, o desejo profundo de fugir a uma sensação de “prisão” criada na infância, no confronto com os nossos pais, família, conhecidos, professores… E isso faz uma grande diferença.
Liberdade pode, pois, estar associada a situações em que nos sentimos enclausurados, sem escolhas, compelidos, traumatizados, etc. Uma pessoa pode muito bem embandeirar-se com slogans de Liberdade, mas, no caso de uma história pessoal passada de submissão e servidão, unicamente viver alerta e encontrando por toda a parte exemplos de falta de Liberdade fundamentadas nas reminiscências das suas memórias e sentindo-se enclausurada.
As consequências podem ser trágicas: em nome da Liberdade, metemos outros na prisão, dirigimo‑nos inconscientemente ao que não queremos sem ter consciência disso (não querer sentirmo-nos presos) e acabamos por ser confrontados com o que não queremos, desgastando, assim, as nossas energias para fugir da prisão da nossa infância ainda presente em nós.
A tomada de consciência e o reenquadramento das memórias passadas é realizado em PNL com a ajuda das Terapias da Linha do Tempo, como por exemplo na clássica técnica da “Transformação da História Pessoal”.
Muitas vezes não se trata de atingir individualmente uma sensação de Liberdade. Trata-se mais de resolver questões emocionais de infância ainda não resolvidas.
Exercício:
Considere o seu conceito de Liberdade dando atenção aos sentimentos que a palavra lhe provoca;
Tendo em conta sobretudo as suas sensações, procure para si uma palavra que exprima exatamente o que para si é o oposto de Liberdade;
Concentre-se agora no conceito Liberdade e procure pessoas, eventos, circunstâncias que sejam a expressão concreta do seu conceito de Liberdade;
Feito isso arranje a sua própria maneira de despejar a mente e concentre-se depois precisamente no oposto do seu conceito de Liberdade procurando exemplos na sua vida (ou qualquer outra representação que lhe surja) e que sejam a expressão do diametralmente oposto à Liberdade;
Faça um inventário dos “acontecimentos” relatados à Liberdade e aos seus opostos: o que o toca emocionalmente mais?
Volte-se para o fundo de si próprio e munido do máximo de sinceridade tire as suas próprias conclusões.
A INTELIGÊNCIA CRIATIVA
Devido à incompreensão das possibilidades ilimitadas e do papel da nossa mente inconsciente nas nossas vidas, muitas pessoas atribuem intuições e revelações a anjos, espíritos, santos, estrelas ou deuses.
Em PNL, trabalhamos pessoalmente também com estas entidades virtuais, tratando‑as como sendo “partes” do nosso inconsciente. Salieri e Mozart representam a diferença entre o trabalho do consciente e do inconsciente.
Enquanto o consciente sua, luta, pensa, analisa, a inteligência criativa do inconsciente produz maravilhas, em Liberdade, segundo a lei do menor esforço. Aliás, é sabido que as grandes descobertas científicas que transformaram a nossa visão do mundo brotaram sem esforço das mentes de figuras como Galileu, Newton, Einstein…
Claro que, para o inconsciente produzir as respostas, a informação tem de ser lá metida primeiro.
INTERVENÇÕES COM PNL
Em primeiro lugar, aprende-se em PNL a ter uma nova relação connosco. Estudam‑se os processos inconscientes que determinam as nossas sensações e os nossos comportamentos:
– Tornamo‑nos mais conscientes da maneira como fabricamos as nossas ideias sobre os outros; percebemos as determinantes destes processos, como as convicções e os valores; descobrimos os valores atrás dos valores e as suas origens, das quais as principais nos levam à infância; entendemos melhor os traços da nossa personalidade; tornamo‑nos conscientes do poder dos padrões linguísticos; descobrimos episódios marcantes em que emoções negativas ainda jogam um papel relevante;
– Com base nesta compreensão e maior domínio dos processos internos, melhoramos a nossa comunicação connosco e com os outros;
– O estudo da nossa subjetividade deixou atrás de si um arsenal de inúmeras técnicas, técnicas essas que são empregues em simultâneo com a atenção que deve ser dada a um conjunto bem definido de princípios orientadores sistémicos e ecológicos;
– O primeiro passo no caminho da “Liberdade”, se há algum sentido em empregar a palavra “Liberdade”, é o reconhecimento do poder destes processos subjetivos como determinantes na nossa vida. O segundo passo é o respeito e aceitação daquilo que se nos oferece tanto interiormente como exteriormente. O terceiro passo é encontrar o equilíbrio entre a mente consciente e a mente inconsciente, desistindo da ilusão de controlar o inconsciente, procurando que, juntos, de forma harmoniosa, trabalhem no mesmo sentido para realizar significado;
– E, finalmente, o objetivo é sentirmo‑nos, enfim, cada vez mais em paz connosco e com o mundo!
OS ENREDOS DA LIBERDADE
Até que ponto nos sentimos livres? Até que ponto somos verdadeiramente livres? O valor “Liberdade”, como qualquer valor, aliás, mesmo que pareça algo muito bonito, na maioria das vezes representa a teia que inconscientemente nos aprisiona. A tentativa de realização do valor de forma obsessiva leva a um desgaste enorme de energias.
Tenho vindo a dar uma atenção especial a este fenómeno: na grande maioria das vezes, julgamos que nos estamos a dirigir a algo positivo, ao alargamento das possibilidades inatas, sem nos darmos conta de que agimos na forma de piloto automático, quer dizer, inconscientemente: como resultado da nossa história pessoal, sobretudo como resultado de frustrações e traumas, repetindo ou reagindo aos dramas do nosso passado.
Queremos que haja respeito no mundo ou queremos ser respeitados? Queremos a lealdade social ou que ninguém nos traia? Queremos realizar o amor ou que nos deem atenção? Queremos a Liberdade como princípio universal ou não queremos mais a prisão que experimentámos na infância? Queremos servir o outro ou ser bem vistos e reconhecidos?
Isto não é uma subtilidade qualquer nem um jogo linguístico. Isto faz uma grande diferença na maneira como nos movemos no mundo.
ONDE ESTÁS TU DOCE LIBERDADE?
A Liberdade é coisa que não me parece fácil de encontrar, nem na política, nem na economia, nem nas nossas vidas. As determinantes sociológicas, culturais, histórico-pessoais, impelem‑nos em determinadas direções. Por vezes estamos aparentemente convencidos de que tomámos determinadas decisões conscientemente quando, afinal de contas, segundo o que conhecemos hoje do funcionamento do cérebro, o processo verdadeiro parece ser outro: tomamos consciência de decisões já tomadas inconscientemente e caminhamos pela vida convencidos de que tomámos decisões a nível consciente.
Votamos na maioria das vezes, não pelas razões que damos a nós próprios, mas por fatores que escapam à nossa consciência. Liberdade implicaria uma tomada de decisão consciente segundo a definição que utilizei da Wikipédia. Onde estão, então, as nossas decisões conscientes se:
– O processo pelo qual acedemos à informação é essencialmente composto por omissões de informação, generalizações a partir de acontecimentos únicos, distorções criativas de estímulos externos e memórias e, por isso, qualquer decisão é fruto de informações limitadas?
– Se as representações que fazemos do mundo e de nós mesmos estão diretamente relacionadas com o nosso estado de espírito do momento e com o contexto, e se nem o contexto nem o próprio estado de espírito estão, na maioria das vezes, sob o nosso controlo?
– Se as decisões estão condicionadas pela nossa postura física, pela alimentação, pelo grau energético, pelas características físicas e subjetivas do ambiente?
– Se dependem dos significados linguísticos que atribuímos às coisas?
– Se as nossas decisões derivam de forma direta das nossas crenças e valores e são precisamente estas crenças – e crenças e valores atrás de crenças de que, em geral, não temos a mínima consciência – que selecionam e disformam a informação?
– Se estas decisões estão diretamente relacionadas com as nossas tendências ou traços psicológicas naturais, dos quais muito superficialmente temos consciência?
– Se são o resultado direto e projeção de memórias com conteúdos emocionais, em que os conteúdos emocionais negativos possuem a maior importância e, quanto mais fortes, menos consciência temos deles?
– Onde está então a nossa Liberdade?
A REALIZAÇÃO DA LIBERDADE COM PNL
A questão essencial em PNL é a questão da Liberdade. Até que ponto fazemos conscientemente escolhas na vida? Em geral, não fazemos. As decisões são tomadas como resultado da nossa história pessoal, antes de termos consciência plena delas. Isso faz do nosso pensamento consciente uma espécie de robô que julga que é patrão.
No fundo, é este um dos pressupostos básicos da PNL:
“Toda a aprendizagem, transformação e comportamento são de natureza inconsciente.”
E é mesmo por isso que a PNL, ao lado da psicologia, da neurociência, da psicoterapia e de todas as disciplinas que desvendam o funcionamento humano e fornecem ferramentas para lidarmos cada vez melhor connosco e com o mundo, faz todo o sentido.
O objetivo em PNL é facilitar‑nos o caminho para a aquisição da “Liberdade”, através de uma tomada crescente de consciência do funcionamento da nossa experiência subjetiva
– dos fatores determinantes e dos processos que levam à produção de estados emocionais e sensações e ao comportamento.
Um dos primeiros e determinantes fatores na experiência da Liberdade é a postura corporal.
Exercício:
Baixe a cabeça, encolha-se, retenha o mais possível a respiração;
Mantenha esta postura alguns minutos;
Volte-se totalmente para dentro de si e tome plena consciência das suas sensações neste momento;
Volte à sua postura normal e pergunte-se: – em relação ao conceito que tenho de “Liberdade” como me senti quando adquiri esta postura fechada?
Respire agora, pelo menos, três vezes profundamente;
Imagine depois, durante alguns momentos, que não só os seus pulmões respiram mas que é todo o corpo que inspira e expira;
Levante o olhar ao mesmo tempo que eleva os braços e os mantém abertos durante, pelo menos, dois minutos;
Volte à sua postura normal e pergunte-se: – em relação ao conceito que tenho de “Liberdade” como me senti?
Tome o tempo necessários para tirar destas experiências as conclusões que achar importantes para si.
O cerne em PNL gira à volta da compreensão das nossas representações mentais, as imagens que criamos do mundo e dos outros, e das características sensoriais que atribuímos a essas imagens:
as características das representações que involuntariamente criamos influenciam diretamente os nossos estados emocionais.
No momento em que conseguirmos lidar melhor com estas características, começamos a ter um maior domínio sobre os nossos estados emocionais e, consequentemente, a ter um certo controlo das escolhas de comportamento.
Sem isso, reagimos de forma automática ao mundo e às construções mentais que ininterruptamente e de forma associativa invadem, por assim dizer, a nossa mente.
É este fluxo contínuo de imagens e ideias, que se processam totalmente fora do nosso controlo no teatro da nossa mente que produz os estados que vão determinar os comportamentos.
Exercício
Tome o tempo necessário e recorde-se então de uma situação em que a sua maior característica era justamente a ausência de Liberdade. Veja, ouça e sinta as sensações que sentiu;
Embora possa não ser fácil se nunca frequentou um curso de PNL, experimente observar as características da representação que tem em mente: se é uma imagem com ou sem cor, com brilho ou sem brilho, grande ou pequena, se está perto ou longe de si no seu espaço virtual mental, se se move ou está parada, se tem ou não tem som… etc., etc.;
Faça agora o mesmo para situações da sua vida em que sentiu aquilo que para si experimenta como uma sensação de Liberdade. Tome o tempo necessário para reviver a situação e apreciar a representação mental que se desenrola;
Investigue agora as características desta representação na sua mente (tamanho, cor, brilho, distancia, movimento, som, até mesmo o tipo de sensação no seu corpo, etc.);
Compare as características sensoriais mentais de uma e outra das situações e tire as suas próprias conclusões.
Em termos de PNL:
“Liberdade” ou não depende exclusivamente de como “pintamos” a nossa imaginação!
Essencialmente, como vimos no exercício anterior, o que se aprende em PNL é a lidar com as características das imagens e dos sons no teatro da mente e das sensações no corpo.
No que se refere a imagens, trabalha‑se, por exemplo, com o tamanho, forma, localização, cor, distância, movimento, associação e dissociação;
alguns elementos básicos manipuláveis nos sons são o volume, timbre, tonalidade, ritmo, direção; nas sensações referimo‑nos, entre outros elementos básicos, à localização no corpo, à temperatura, pressão, peso, intensidade, movimento.
São estas características sensoriais que determinam de forma automática os nossos estados, sem que dêmos por isso.
A Liberdade começa, se calhar, no momento em que não somos simplesmente escravos dos nossos estados sensoriais sem darmos por isso, mas começamos a ter consciência do processo e a lidar com eles, o que equivale a influenciar deliberadamente as representações mentais, lidando com as características sensoriais nomeadas atrás.
É o chamado trabalho com as submodalidades sensoriais das nossas representações mentais. Mas isto é unicamente o topo do icebergue. É um processo subjetivo, vago e que, por ser tão normal, não damos por isso.
E porquê falar aqui do topo do icebergue? Porque estas representações sensoriais internas com as respetivas submodalidades são, em si mesmas, determinadas, como já disse, pelas memórias, crenças e convicções, “decisões” tomadas no passado, traços psicológicos, emoções, padrões de linguagem empregues, etc., e que formam toda a massa invisível do icebergue debaixo da superfície das águas da nossa existência.
Ora, sem a tomada de consciência e, muitas vezes, a transformação destes fatores e sobretudo dos acontecimentos desconfortáveis ou mesmo traumáticos que estão na sua origem, não é possível lidar diretamente, de forma funcional e positiva, com as representações mentais transformando as suas características sensoriais.
Há que intervir mais profundamente na nossa história pessoal.
Exercício
Se “Liberdade” é mesmo um valor importante para si, considere por instantes o seu desejo (escondido ou explicito) de Liberdade;
Pergunte-se interiormente e com toda a sinceridade em que momento da sua vida esse desejo nasceu;
Insista até começarem a surgir episódios históricos emocionalmente marcantes relacionados (verdadeiros, imaginados, lidos ou ouvidos, não importa – pois são todos eles determinantes da nossa vida…);
Pergunte-se o que lhe faltou naquela idade e o que precisaria de ter percebido para que estes episódios não o tivessem negativamente afetado desta maneira);
Encontre uma cor, um símbolo, uma palavra que represente o recurso que se tivesse tido na altura lhe teria permitido ultrapassar a situação de uma forma mais positiva;
Embora estas técnicas só possam ser compreendidas e executadas eficazmente num curso oficial de PNL, experimente, apesar disso, envolver-se nessa cor, símbolo ou argumento e ofereça-o ao seu “eu” na idade do acontecimento;
Se resultar (o seu “eu” mais jovem aceitar) imagine-se a crescer até à sua idade atual, de posse desta nova dádiva, transformando os episódios mais marcantes da sua vida relacionados com este tema;
Ao chegar à idade atual considere o que se transformou na sua vida no que respeita o seu script de vida relacionado com o tema da Liberdade. Considere os resultados para o futuro e, sobretudo, faça uma “vénia” às possibilidades e inteligência infinita do seu inconsciente.
A tomada crescente e ecológica de posse de um controlo maior sobre as nossas vidas e o caminho da “Liberdade” é, no meu entender, todo um processo de tomada de consciência e possível transformação que passa, não só, pelas estratégias mentais mais superficiais (sequências de imagens, sons, sensações, palavras, com as respetivas características sensoriais), mas sobretudo pelos padrões linguísticos, sistema de crenças, valores, traços que formam o nosso perfil psicológico, neutralização de emoções (sobretudo as negativas) nas memórias, autoimagem e sensação de nós, e missão na vida.
Isso pode ser em PNL concretamente feito através das terapias da Linha do Tempo tal como vimos um exemplo no último exercício.
Mas há muito mais de que não tem sentido falar no quadro deste artigo, ou melhor, que vai muito mais além do que uma compreensão meramente intelectual.
Por exemplo: a dor, a ineficiência, o indesejável, os mais sombrios escombros da nossa história, os comportamentos e traços de caráter mais indesejáveis e para a transformação dos quais as pessoas chegam aos nossos cursos… tudo isso é acolhido em PNL de braços abertos – e não para ser neutralizado!
Isto não se pode explicar aqui por meras palavras.
Adoramos em PNL a nossa dor, os nossos “diabos” que dia e noite elevam as suas vozes em protesto.
Em PNL damos-lhes razão. Eles estão lá para serem acolhidos, compreendidos e realizarem os seus objetivos que são a essência do Ser e da Liberdade e que na maioria das vezes queremos ver destruídos!
Para compreender plenamente estas abordagens , teremos necessidade de experimentação prática no Practitioner e Master em PNL. É no âmago destes “diabos” e no seu acolhimento que encontramos o sentido e a realização da Liberdade. Mas isto fica para uma próxima ocasião…
RESUMINDO
A Programação NeuroLinguística é uma metodologia que nos ajuda a compreender a teia em que nos encontramos emaranhados e provoca em nós o desejo de Liberdade.
Em PNL tornamo‑nos conscientes dos diversos elementos dessa teia e do seu funcionamento, e aprendemos a lidar com eles de uma forma mais harmoniosa, ressignificando elementos não funcionais, num processo contínuo na direção de uma sensação de cada vez maior de plenitude.
Em vez de vivermos a ilusão de que controlamos as coisas e tomamos decisões que já foram tomadas de forma inconsciente, despertamos, a pouco e pouco, para uma vivência unificada e harmoniosa de cooperação entre o consciente e o inconsciente.
Só à medida que esse grau de consciência cresce e essa cooperação se torna um reflexo de balanço e totalidade é que se desenvolve uma experiência interna cada vez maior de Liberdade.
Liberdade deixou então de ser uma filosofia e um valor mítico a alcançar para se tornar uma experiência íntima cada vez mais rica da vida.